Depois da fronteira

“porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” (Ap. 5:9,10)

Uma das coisas mais incríveis que eu consegui sentir na África, foi quando em um único lugar reunimos pessoas de vários países, línguas, tribos e destinos em nome do Amor no qual chamamos Deus, em nome do Deus que é o Amor. Quando este amor se fez carne e habitou entre nós com o codinome Jesus, ele ensinou que precisaríamos aposentar nossos passaportes e derrubar todos os muros que faziam fronteiras entre aqueles que julgávamos serem diferentes. Ele percorreu arrancando as estacas que limitavam a irmandade e a união, pelas ruas, vilas e becos não só das áridas e rochosas terras da região da palestina mas principalmente nos corações desertos da humanidade.

Conjugando o amor e todos atributos que recheiam o verbo, Ele diminuiu as distâncias, os preconceitos e a irmã-gêmea do ódio – a indiferença. Jesus não foi indiferente à mulher samaritana – que normalmente jamais seria notada ou cumprimentada por um homem judeu. Jesus não apenas curou o homem leproso mas o tocou quando a lei proibia-o de fazê-lo. Para Ele à luz das condições fundamentais o princípio era insignificante – e Jesus se tornou um fora da lei em favor de algo maior, o ser humano.

Existem barreiras culturais, políticas, econômicas e religiosas. Que poderão cavar o maior abismo de todos entre o meu semelhante e eu. Poderão sujar as páginas dos livros de história, do sangue inocente que será apenas julgado, mas nunca trará de volta os anos interrompidos de uma vida. O Apartheid, Auschwitz, Rwanda, são a prova da cruel realidade que nos devasta, quando o apego às fronteiras que nos separam são maiores do que as pontes que nos unem.

Segundo Brennan Manning se mantemos a mente aberta como a de uma criança, desafiamos idéias estabelecidas e estruturas rígidas, incluindo as nossas. Portanto não encontramos demônios naqueles de quem discordamos. O evangelho que Jesus disseminava pelos lugares que passava não era manifesto de forma dogmática mas relacional. Ele era amigo e amava as pessoas, não existiam separações, discriminações.

O Deus mais humano de todos construiu um Reino sobre uma rocha chamada Amor. Em seu ato sublime de compaixão, escalou a mais dolorosa cruz e comprou o direito à simplesmente todos, todos que o quisessem seguir. De toda tribo, língua, povo e nação, arrancando todo estereótipo e sem nunca ter desejado ser um político gritou no ato mais democrático de todos: “E reinarão sobre a terra”. Toda terra aguarda uma geração piedosa que não se calará, mas em cada lar estabelecerão um governo permeado pela caridade. Um dia que não haverá mais o ‘silêncio dos bons’, como disse M. Luther King.

Portanto, à luz do amor, eu percebo que amar ao meu próximo me aproxima das respostas mais sinceras a respeito da mais famosa das perguntas: “Porque eu estou aqui?”

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